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EVOLUÇÃO DO SETOR EMPRESARIAL & DIAGNÓSTICO ANALÍTICO DA ÚLTIMA DÉCADA (2011-2020) 

O presente artigo analisa, no período entre 2011 e 2020, a performance do tecido empresarial em Cabo Verde, através de um conjunto de indicadores e rácios, nomeadamente, (i) número de empresas ativas, (ii) volume de negócio, (iii) número de pessoas ao serviço, (iv) dimensão das empresas, (v) setor de atuação, (vi) faturação média por cada pessoa ao serviço e (vii) nº de empresas por 1.000 habitantes. Para o efeito, recorreu-se à recolha e análise das estatísticas empresariais (2011 e 2020) e da Conta Geral do Estado.

Os resultados obtidos evidenciam, por um lado, uma evolução positiva no que tange ao número de empresas ativas (2011 e 2019) com uma taxa de crescimento médio de 3%, registando uma pequena queda no ano de 2020 (-1%). Por outro lado, em termos do volume de negócios, a queda registada em 2020 motivada pelos efeitos negativos da pandemia COVID-19, teve um impacto significativo sobre o tecido empresarial, particularmente na evolução do volume de negócio das empresas.

Entretanto a nível global, evidencia-se uma evolução positiva do número de empresas ativas, pessoas ao serviço e o volume de negócio durante o período de 2011 e 2019.

O tecido empresarial atua como um veículo de transição socioeconómica, facilitando a adaptação às novas tendências locais, nacionais, regionais e globais, além da importante função de empregabilidade e contributo para o desenvolvimento económico.

Entre 2011 e 2020, o número de empresas ativas aumentou (24,1%), tendo passado de 8.957 para 11.115, das quais 8.280 microempresas (74,5%), 1.110 pequenas empresas (10,0%), 1.459 médias empresas (13,1%) e 266 grandes empresas (2,4%), que constituem uma minoria no setor.

A nível de empresarialização por ilha (nº de empresas por 1.000 habitantes), destacam-se, a ilha de Santiago com 5 empresas por 1.000 habitantes, seguida de São Vicente com 2,1 e a ilha do Sal com 1,3. As restantes ilhas apresentam uma média de 0,4 empresas por 1.000 habitantes. A nível nacional este rácio é de 1,2.

Em termos de volume de negócios, em 2020, o tecido empresarial a nível nacional ultrapassou os 236 milhões de contos (-21,5 milhões de contos face a 2011), destacando-se o contributo do comércio grossista e retalhista, hotelaria e restauração, reparação automóvel e outras indústrias. Em 2020, embora as MPME’s representassem a maioria das empresas ativas no setor empresarial (97,6% do total de empresas), o seu volume de negócios representou apenas cerca de um quarto (23,3%) do volume de negócios total do setor empresarial.

Em relação as receitas geradas para o Estado, as empresas pagaram em 2020 mais de 3,4 milhões de contos em Impostos sobre o Rendimento (IUR), o que significa que o lucro global gerado pelo tecido empresarial nacional nesse ano ultrapassou os 15,4 milhões de contos, de acordo com as estimativas feitas, baseadas na Contas Geral do Estado (2020) e na taxa de IUR (22%). Esta estimativa desconsidera os efeitos dos incentivos fiscais, dimensão das empresas (micro, pequenas, médias e grandes empresas) e entre outros proveitos concedidos pela entidade tributaria.

Em matéria de empregabilidade, no mesmo período (2011-2020), em termos de nº de pessoas ao serviço, o aumento foi de 33,7%, tendo passado de 53.394 para 71.371 trabalhadores. Em 2020, as MPME empregavam mais de 55% dos trabalhadores do setor empresarial a nível nacional, estando os restantes 45% empregados nas grandes empresas sedeadas no país.

Numa análise mais segmentada da evolução do tecido empresarial nacional ente 2019-2020, verifica-se o seguinte:

(i)   O número de microempresas ativas manteve uma tendência de crescimento (+730 novas empresas, + 10% face a 2019), maioritariamente nas ilhas de Santiago e São Vicente, tendo sido responsável pela criação de mais 4.101 novos postos de trabalho (+30,7% face a 2019). No entanto, o impacto do contexto pandémico, fez-se sentir no volume de negócio das microempresas, que retraíram uma queda de 13%, passando de 8,7 milhões de contos (2019) para 7,6 milhões de contos (2020).    

(ii)   Quanto às pequenas empresas, a crise sanitária (e socioeconómica) teve um impacto significativo neste segmento de empresas, especialmente ao nível do volume de negócios, que registaram uma queda significativa de 43% face ao período pré-pandemia (2019), e no número de empresas ativas (-14%). A nível de número pessoas ao serviço, o impacto foi residual, tendo se registado uma diminuição de trabalhadores neste segmento de menos de 1%.

(iii)    As empresas de média dimensão também sofreram com os impactos da pandemia, tendo registado um decréscimo de 26% das empresas ativas neste segmento, representando em termos absolutos, menos 525 empresas, com o número de colaboradores a cair de 18.136 em 2019 para 15.171 (-16%) em 2020. Em termos de volume de negócios, o impacto foi ainda maior, com uma quebra de 35%, passando de 67,3 milhões de contos (2019) em valores absolutos para 43,4 milhões de contos (2020).

(iv)      As grandes empresas, apesar de contribuírem maioritariamente para o volume de negócios total do setor empresarial, registaram igualmente uma queda de aproximadamente 29% nesse indicador. Já em termos do número de pessoas ao serviço, os impactos não foram tão expressivos, registando apenas uma diminuição de 5% neste segmento. Quanto ao número de empresas ativas, verificou-se igualmente uma redução considerável (-22,7%), tendo passando de 344 grandes empresas ativas (2019) para 266 (2020).

Aprofundando a análise dos dados evolutivos do tecido empresarial nacional, constata-se que durante o contexto pandémico-sanitário, a tipologia de empresas mais afetadas em termos de volume de negócios foram:

a)    Empresas que atuam no setor de eletricidade & gás (-47%),

b)    Empresas que atuam no setor de comercial e de reparação de automóveis (-33%),

c)     Empresas que atuam no setor de alojamento e restauração (-50%);

d)    Empresas que atuam no setor das atividades administrativas e serviços de apoio (-53%);

e)    Empresas que atuam no setor das artes, espetáculos, desporto e entretenimento (-81%).

Em contramão, o setor imobiliário, foi o único setor de atividade a apresentar uma melhoria significativa do volume de negócios, com um aumento na ordem dos 30%.

Cruzando perspetivas de análise com base nos dados de 2020, estima-se os seguintes:

ü  A faturação média por cada pessoa ao serviço foi de aproximadamente 3.3 mil contos (-29,4% face a 2019), numa redução provocada fundamentalmente pelos efeitos do quadro pandémico naquele ano;

ü  Foi criado um posto de trabalho no tecido empresarial para cada 200 mil contos de aumento do volume de negócio (um novo emprego direto gerado por cada 40,2 mil contos de aumento no volume de negócio no tecido empresarial 2019);

ü  As microempresas destruíram um posto de trabalho por cada redução de 268 contos no volume de negócio (destruição de um posto de trabalho por cada redução de 152 contos 2019);

ü  As pequenas e médias empresas geraram um novo posto de trabalho direto por cada aumento de 70,2 mil contos e 8,0 mil contos no volume de negócios respetivamente (criação de um novo posto de trabalho direto por cada aumento de 586 contos e 6,5 mil contos de volume de negócio adicional respetivamente 2019);

ü  As grandes empresas geraram um novo posto de trabalho por cada aumento de 45,6 mil contos no volume de negócio deste segmento empresarial (destruição de um posto de trabalho por diminuição de 6,6 mil contos em 2019);

ü  Em comparação com o PIB, o volume de negócios do setor empresarial foi 39% superior ao PIB anual (2020), quando no ano anterior (2019) se fixava nos 50% acima do PIB.

O tecido empresarial tem desempenhado um papel estrutural no desenvolvimento da economia cabo-verdiana, principalmente no que tange a transição de know-how e na criação de novos postos de trabalho.

Entre 2011 e 2020, o número de empresas ativas aumentou 24,1%, tendo o setor gerado + 17.977 novos postos de trabalho, contribuindo de forma decisiva para o desempenho económico do país. O volume de negócio gerado, ultrapassou os 236 milhões de contos em 2020, apesar dos efeitos negativos da pandemia, fixando-se 39% acima do PIB nacional (50% acima do PIB em 2019).

O tecido empresarial assenta  nos setores de (i) comércio a grosso e a retalho, reparação de veículos automóveis e motociclos, (ii) alojamento e restauração, sendo estes os setores que apresentam o maior número de empresas ativas a atuar mercado, com o maior volume de negócios e um maior número de colaboradores registados, ressaltando assim a necessidade de incentivos ao investimento nos setores de agricultura e pesca. 

O tecido empresarial caracteriza-se por uma forte presença de microempresas, que mesmo durante o período pandémico continuaram a registar um aumento no número de empresas ativas neste seguimento, com as pequenas, médias e grandes empresas a apresentarem maior sensibilidade ao impacto do contexto pandémico, traduzido na diminuição do número de empresas nestes segmentos.

A faturação média por trabalhador foi de aproximadamente 3.3 mil contos em 2020, com a criação de um novo posto de trabalho para cada aumento de 200 mil contos no volume de negócio no tecido empresarial. As microempresas a destruir um posto de trabalho por cada redução de 268 contos no volume de negócio, em sentido oposto, as pequenas, médias e grandes empresas geraram um novo posto de trabalho direto por cada aumento de 70,2 mil contos, 8,0 mil contos e 45,6 mil contos no volume de negócios respetivamente.

Perante estes factos, mostra-se fundamental a criação e promoção estratégica de um ecossistema empresarial/negócio dinâmico, caracterizado por um fluxo contínuo de partilha de informações, recursos e conhecimentos potencializadores de inovação de forma descentralizado, pois perante o contexto de incertezas e contínua mutação que vivemos, decisões estratégicas devem ser implementadas, a fim de garantir as condições chaves para um funcionamento saudável do tecido empresarial no seu todo.

 

 

 

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